02 janeiro, 2006

- Eles -

Desceu a escada rolante de cabeça baixa. O olhar melancólico, sempre no chão. Dezenas de pessoas ao seu redor e era como se estivesse sozinho, distraído com seus pensamentos. De fato sentia-se só. Podia até ser roubado ligeiramente por qualquer um que nem perceberia. Todos os demais estavam em outro pique, em outro tempo, alienados, com a pressa urgente de estar em algum lugar. Típico de uma metrópole. Uma selva. As portas do vagão se abriram lateralmente e ele sentou-se num banco desocupado. Por pouco não fora pisoteado pela multidão logo atrás que surgira de muitos cantos.
Sentou-se lentamente e com um olhar vazio observou toda aquela gente. Tantos rostos que jamais vira e jamais voltaria a ver. Assim que o trem deixou o túnel, olhou para fora, para os prédios, para as casas e ruas que passavam rapidamente. Nas estações seguintes a multidão foi aos poucos dissipando. O ar encontrou mais espaço e ficou mais respirável. Lá de trás, do fundo do vagão, seus olhos apontaram para uma moça sentada muitos metros adiante. Ela tinha ao seu lado uma bolsa e segurava um livro que seguia lendo na viagem. Ele, estático, absolutamente encantado. Estranhamente seu coração pareceu acelerar.
Jamais vira tamanha beleza e doçura em uma mulher antes: os cabelos longos castanhos cacheados formavam nela a mais perfeita silhueta. A boca suavemente desenhada e avermelhada tinha um brilho e contorno delicioso. A pele branca e macia tinha a mais agradável fragrância. Atrás dos óculos de uma fina armação, os olhos esverdeados mais estonteantes percorriam atentamente as palavras do papel.
Ele não conseguia desviar sua atenção para qualquer outro lugar. Estava hipnotizado. Preso como um ímã. Não queria deixar de admirá-la e admitiu para si a loucura que era pensar todas aquelas coisas a respeito de uma estranha que até alguns segundos atrás não fazia idéia que estava no mundo. Mas ao mesmo tempo agradeceu a deus por saber que ela estava ali no mundo também. Não era uma miragem. Era bem real. E quem ela era, não parecia ter a menor importância para ele. O que importava é que estava ali, diante dele. Pensou em levantar e ir até a garota. Mas não saberia o que fazer, como agir. Nem poderia imaginar o que ela ia pensar. Um estranho puxando papo assim do nada, ela com certeza estranharia. Tinha que pensar em algo e depressa. A qualquer momento ela poderia ir embora e jamais a veria novamente em toda sua vida. Uma estranha sensação o tomou. Estava interiormente inquieto. Estava surpreso consigo mesmo, e não entendia nada do que estava acontecendo naquele momento. Muitas indagações, e aparentemente não havia por que. Se fosse contar a alguém mais tarde sobre isso, provavelmente não entenderiam também e tomariam a história por piada.
Anunciada a próxima estação, ela guardou o livro na bolsa e levantou-se em direção a porta mais próxima. Ele não queria que ela partisse, não agora. Gostaria ao menos de saber seu nome. Então as portas se abriram e ele pôde vê-la por inteira. Sua figura o fascinara intensamente e ele suspirou. Ele não sabia o que era tudo aquilo que sentia e assim que ela pisou fora do vagão, uma força desconhecida deu-lhe coragem para erguer-se em direção a porta mais próxima, acompanhando os movimentos dela. Dezenas de pessoas entrando e saindo do trem e ele fixado naquela bela jovem. Ela topou com um apressado qualquer que derrubou seu livro e sua bolsa e o indivíduo nem virou para trás. Vendo aquilo, ele, foi correndo ajudá-la. Abaixara-se para apanhar suas coisas. Ficara impressionado como era ainda mais linda de perto. Se ele imaginara o perfume dela ser o mais inebriante, pôde então naquele momento comprovar indescritível fragrância. A boca teve o contorno mais delicado quando para ele sorriu agradecendo a gentileza. Ele, intimidado por ela, retribuiu com um sorriso acanhado. Ela ficara olhando para ele também. Sem saber o que falar para ela, sentiu seu rosto enrubescer. As únicas palavras que ele conseguira dizer foram as que ele mais temia em um primeiro contato.
Surpreendentemente quem ruborizou desta vez fora ela ao ouvir o mais lindo elogio a sua beleza, o que a tornou ainda mais encantadora. Os dois então sem que percebessem foram caminhando, juntos, para longe do metrô que partia. Ele, sentira-se no céu. A ela, agradava a companhia de rapaz tão gentil, tão educado. Logo a ansiedade dele passara e a conversa fora fluindo de tal maneira que passados apenas alguns minutos, conversavam como se há tempos se conheciam. Foram parar numa lanchonete ali mesmo dentro do terminal para tomar um cafezinho. Por conta dele é claro, ele faria questão. Na mesinha foram se conhecendo. O sorriso dele era infinito enquanto a tinha diante de si contando sobre ela mesma, dona de uma voz delicada, suave e ponderada. Ela também se interessara por ele enquanto ele contava sua história. Ele tinha uma ótima conversa. Passaram várias horas e eles ali estavam, no auge de um papo animado que pelos dois podia continuar para sempre. Mas nem tudo era perfeito, ela tinha que partir. Ele não gostara da idéia mas compreendera. Era realmente uma pena. Ela não morava longe dali e ele fizera questão de acompanhá-la. Claro, pois queria ter a companhia da moça o máximo que pudesse, e a ela também muito agradou a idéia de tê-lo junto. A noite começava a cair e podia ser perigoso ir sozinha. Foram caminhando e conversando sem pressa.
Diante da casa dela eles pararam, e ele ficara sem jeito de pedir-lhe o telefone. Sim, porque não queria perder o contato com ela bem ali, depois de uma tarde inteira juntos. Ele se divertira muito. Era um bom rapaz, mas a vida não estava sendo tão gentil com ele e aquela tarde fora a melhor coisa que havia acontecido nos últimos tempos. Ela também gostara imensamente de tê-lo conhecido e entregou-lhe um cartão. Ela percebera a timidez do rapaz e resolvera poupá-lo de qualquer embaraço. Ele sorriu alegre e guardou o cartão agradecido. Então parecia que aquele conto de fadas terminava ali. Ou pelo menos, naquele dia. A história poderia estar apenas começando. Os dois ficaram se olhando nos olhos, sem saber como se despedir um do outro. Até que ele estendeu-lhe a mão. Achou que um beijo, mesmo que no rosto, ainda era inapropriado. Teve a mão dela entre as dele por muito tempo e internamente não queria soltá-la. Era leve e macia. Mas ele prometera ligar. Com toda certeza ligaria. Queria tantas outras oportunidades em estar ao lado dela quanto pudesse. Ela lhe fazia sentir muito bem, feliz. Então cada um virou-se. Ela seguira até a casa e ele voltava pela rua, com as mãos no bolso da jaqueta. Já alguns passos dados e ele virou para olhá-la. Ela gritara para ele e vira correndo, parando diante dele, ofegante, parecia querer dizer-lhe alguma coisa. Talvez seu nome. Ele acabara de perceber que apesar de todo o tempo que passaram juntos, tantas histórias e risos, esqueceram de apresentar-se formalmente. Então ela aproximou-se de seu rosto lentamente e encostou de leve seus lábios no dele, agradecendo baixinho pela tarde em seu ouvido. Sem esperar uma resposta ela voltou-se e seguiu seu destino. Ele, estático, levou os dedos aos lábios, incrédulo, e convencidamente apaixonado, esboçando o sorriso mais feliz do mundo...
Anunciada a próxima estação, ela guardou o livro na bolsa e levantou-se em direção a porta mais próxima. Ele, com os dedos nos lábios, pôde vê-la por inteira. Não se levantou do banco que estava sentado, lá no fundo do vagão, mas não pôde deixar de acompanhar-lhe os movimentos apenas pelo olhar. As portas se fecharam lateralmente. Pela janela, ele ainda pôde vê-la topar com um apressado qualquer e derrubar-lhe os pertences no chão. O trem andou. Ela, lá fora, recompôs-se. Ele, lá dentro, apenas assistindo, melancólico. Ela então seguiu seu caminho pela estação de metrô, e ele jamais a veria novamente em toda sua vida.
por Felipe.Z

15 comentários:

  1. Nooooooossssa!!!!!!!!
    eu amei teacher!!!
    juro que se vc publicar um livro eu serei a primeira a comprar!!!

    maravilhosa historia!

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  2. Fêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê... meeeeeeu... q LINDO !!!!!!!!!!!

    Perfeitoooooooooo... mágico, encantador, claro, bem escrito, envolvente !!!!!!!!!

    AMEI !!!!!!!!! Lindo, lindo, lindo !!!!!!!!!

    SOU SUA FÃÃÃÃÃ !!!!!!!

    Luv Ya !!!!!!!!!!!!

    Beijooooooooooooooooooo, Vivi

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  3. Oii Fe ameiii muitooo lindoo!!!!
    Queria escrever assim como vc escreve mais um dia quem sabe!!!
    E saiba q qndu vc publicar um livro saiba q eu vou ser uma das primeiras a comprar!!!

    BEIJOESSSS FEEEEE

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  4. Feeeeeeeee
    ki lindo serio!!
    Eu amuu seus textos haha
    vc eh o cara!
    bjinhus

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  5. Aiiii que coisa mais linda!!!!
    Nossa, me deixou emocionada... tudo bem que eu sou derretida e isso é bem facil de acontecer, mas seu texto é muito lindo mesmo
    Parabéns!
    Saudades
    Bjinhus

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  6. Oi!!!!
    É.. já tinha lido essa antes d vc postar.. hehehe..
    Amei!!!
    Esse final ficou divino! Ôh decepção... ...rs.. Ficou maravilhosa.. já te disse o quanto adorei!
    Bjuss

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  7. Lindíssimo.... bem real esse final hein Fê.....

    Saudadinha... Beijocas....

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  8. oi...vc sempre me deixa emocionada...não sei se é culpa das suas palavras...ou se sou eu muito sensível....nossa...muito perfeito....te adoro....bjinhossssss

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  9. FÊ, FOI MUITO BONITA A HISTÓRIA.
    É O QUE ACONTECE COM MUITAS PESSOAS.
    ACREDITO QUE TODO MUNDO TENHA ESTE TIPO DE "INSITE"! FOI DE UMA DOÇURA INCRÍVEL E ESTOU REALMENTE TORCENDO POR ELE! ESPERO QUE ELE CONSIGA ALGUM DIA REALIZAR ESTE PEQUENO DESEJO!
    HEHEHEH!

    VC ESCREVE MUITO BEM. TENTE PUBLICAR UM DIA!
    PARABÉNS! BOA SORTE E SUCESSO!

    TEACHER PRI

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  10. Felipe sou a mãe da Priscila, sua colega de trabalho. Li o que você escreveu e achei muito legal seu jeito de se comunicar através das letras. Sou leitora compulsiva, adoro vários estilos, quando li o seu, achei-o bastante facil de se entender e sentir o que você tenta passar. Sua sensibilidade e sua maneira de se expressar é clara,leve e emotiva. Acredite.... e não pare de escrever, você vai longe ..... Um grande beijo pra você. Mariza

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  11. Simplesmente sua melhor obra. Um conot, embora longo, lindo! Uma história comovente e um desfecho perfeito!
    Uma cronica indiscutível, com todo um charme...
    Realmente, Felipe vc ja ta apto a escrever um livro, e pode ter certeza que ele marcará presença na minha prateleira!
    Abraços

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  12. legal,adorei a seu cuidado em descrever a mulher tão bela de maneira que possamos imaginá-la!!

    o mais legal é que muitas vezes imaginamos situações que poderiam ter acontecido mas não fizemos nada p/ concretizá-las...
    podemos até não perceber mas fazemos isso com certeza quase todos os dias!

    bom ta ficando até sem graça eu elogiar tanto....rs

    gostei muito de verdade!!!
    fuis

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  13. Oi, de novo Fê!

    Muito romântico e os detalhes foram descritos à perfeição! Tá certo que meu julgamento deve ser um pouco subjetivo... Por algum motivo inexplicável eu adoro o metrô. Acho-o um ambente acolhedor e próprio para o nascer de uma história.
    Vc já viu o clipe do Savage Gardem "I Knew I loved you"? Caso a resposta for negativa, assiste...

    Não li todas as suas crônica ainda, vou lê-las primeiro para depois decidir qual a melhor para o curta, mas essa é uma boa candidata...

    Beijos

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  14. Lindo!!! Dá pra transformar em novela vc sabe né...rs
    Vou prestar mais atenção quando andar de metrô... pra não deixar oportunidades assim passaraem...rs

    Beijos!

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  15. FEEE...

    VC CONSEGUE TRANSMITIR SENTIMENTOS E COMPARTILHAR A SUA CRIATIVIDADE COM O MUNDO!!!

    LINDO D+... PARA MIM É A MELHOR CRÔNICA!

    PARABÉNS!!!!

    BJUS... DÉIA***

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