25 dezembro, 2005

- Naquela Noite -

Não conseguia dormir. Que agonia! Virava de um lado para outro na cama. O calor atrapalhava o sono, e o ventilador não parecia ajudar. Não teve outra. Foi direto para o computador. Precisava escrever, desabafar. E quem melhor para ouvir se não o amigo de todas as horas? Pois é, a máquina era mesmo a melhor amiga do homem. Não importavam as horas, lá sempre estaria para ouvir e acalmar quem quer que fosse. Ah tempos modernos. Que maravilha! Oops... Maravilha? É, aquela palavra soava familiarmente muito bem. Era muito bonita. Pensou nela...
É, aquela mesma quem lhe tirara o sono. Tão linda quanto o próprio nome. Precisava escrever alguma coisa e depressa, qualquer coisa. Tinha que mostrar para ela de alguma forma. Uma forma que não fosse tão óbvia, mas que também não fosse tão simples. Putz, e agora? Não conseguia pensar em mais nada senão o último sábado. Aff, nem me lembra! Foi naquela noite que havia colocado tudo a perder. Mas será mesmo? Não tenho tanta certeza! Pensava que sim, e também pensava que não. De qualquer maneira, escrever para ela para amenizar sua fúria, parecia uma boa idéia. Que loucura! Que noite! Não, não era ele quem fizera aquilo! Não mesmo! Tinha vezes que se considerava louco, no bom sentido claro, mas normalmente jamais pensaria em fazer o que fez. Ah mulheres! O que nos fazem ser capazes, hein? Passava da meia-noite. Claro que ele não estava sozinho, pois não teria coragem de tamanha audácia se não fossem os amigos, ali, pra dar um empurrãozinho. E que empurrão!
A meio caminho da casa dela, de carro, tentara se lembrar quando fora que topou a idéia de fazer-lhe uma surpresa, e já tinha saudades do barzinho em que estavam. A adrenalina subira tanto que até custou lembrar que música tocava lá. Quando se deu conta, o carro estava parado. É aqui, chegamos! Os olhos arregalados. Ainda não podia acreditar. Desceram do carro e tiraram na moeda quem tocaria a campainha, mas isso só em sua cabeça, é claro. Era ele quem tocaria a campainha da casa dela em plena madrugada, lógico! Ninguém moveria um músculo. Sobrou! Mas o primeiro toque foi por conta de um dos outros três que ali também estavam. Mas só o primeiro toque! O que tinha na cabeça, afinal? Estaria tão apaixonado assim? Não sabia ver as horas e tamanho absurdo que era acordar a garota - que podia estar dormindo tranqüilamente - apenas para vir ter com ele? Claro que estava, pois senão, o que mais o teria levado até ali? Mas ninguém atende essa campainha, talvez seja mesmo uma terrível idéia!
Oops... vozes!
Alguém na casa acordara e com certeza não gostara daquilo. Meu, liga pra ela! Como assim? Piraram? E não é que até cartão telefônico lhe deram? Então ligou do orelhão da esquina. Ora, se já estava na chuva era pra se molhar mesmo e vamo que vamo. Fora a mãe quem atendera, e a voz, não era nada boa do outro lado. Logo quem falou fora ela, a própria, aquela que era o motivo de toda a agitação. Sua voz o acalmara. Poxa, que mal tinha dela vir com eles se divertir? Afinal, era sábado. Dia de farra, ou melhor, noite. Meu, não dá! Mas a galera está em peso aqui na frente, querendo que você venha! Que mentira. Ninguém ali mais do que ele queria que ela viesse. Mas nessas horas vale tudo, depois agente conserta! Estava insano, completamente. Mas espera aí, o que havia de tão especial para ela? Queria cantar para ela. Cantar? Uma bela música que ela com certeza adoraria. Algo que pudesse tocar de leve seu coração. Hmm, mais uma vez, aquela idéia louca, lógico, não vira dele. Grandes amigos!
Sei... vai pensando que tá bom!
Ao menos venha até a janela para que eu veja seus lindos olhos! Que nada. Ficara na saudade. Claro! Pensa bem: mais de meia-noite, você sai de um lugar para acordar uma família inteira com o propósito de fazer uma surpresa para aquela garota especial que você quer conquistar. Não tem cabimento. Uma surpresa! Isso! Por que não dissera antes? Temos uma surpresa pra você no bar! Mas nem isso adiantou. Nossa, que dureza! Estava irredutível mesmo! Também, olha só que situação hein! Por ali ficaram mais um pouco, e nada. Fora embora insatisfeito. Não sabia o que pensar. Mas pôde sentir que maus frutos ia de colher. Será mesmo? E se ela achou engraçado? Sua voz não parecera nada chateada. Ela era realmente um amor de pessoa. Admirava-lhe como todos os outros não se apaixonavam por ela também. Era encantadora, meiga, e especial. Sim, especial. Como todas aquelas por qual nosso tolo coração acelera. Mas... a tela do computador ainda estava vazia. Nenhuma letra. Ele colocou de lado toda aquela intranqüilidade e concentrou-se nela, exclusivamente nela. Ela lhe inspiraria. Escreveria as coisas mais lindas e mais verdadeiras. Não importava que se dali a algum tempo, tudo aquilo que naquele momento tomava por verdade, desaparecesse. O que importava era aquele instante, aquele minuto, aquele segundo, aquela madrugada, que logo, passou a ser bela assim como as palavras que fluíam como pura mágica. Ah, magia! Sim, precisava disso e seria sua principal busca, sempre. Maravilha!
Era ela? Sim, era... maravilhosa...
por Felipe.Z